Lançamento da Antologia Poética "Amante das Leituras"

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quinta-feira, 31 de maio de 2007

Querer mais que Vontade

( Foto: Autor desconhecido)

É olhando a linha que nos separa
que a vontade sedenta morde o teu vulto
sou víbora airada, alucinada pelo teu odor
trespasso, invado e domino-te os contornos
do teu colo avançam os dedos fingindo delicadeza
lentos e atilados acautelam-me os sentidos
serás presa dócil, submissa desfrutando da iguaria
acorrentado o teu corpo oscila
em júbilo do ardor da mordida acérrima
Num sopro gemido contestas a tua oportunidade
Falhada, proibida.
Sou víbora airada, sem vénia, sem permissão, sem restrição.

Vera Carvalho

quarta-feira, 30 de maio de 2007

(Foto: Autor desconhecido)

é nesse beijo
nesse ponto
onde o mar me afaga
e possui
que sou gaivota livre.

liberto a minha alma
vestida de penas
as minhas asas quebradas
o meu corpo nú
e encontro
o único ponto cardeal
em duas sílabas
é nesse beijo salgado
nesse ponto
que quero morrer
para renascer
em braços de espuma.

Teresa Gonçalves

terça-feira, 29 de maio de 2007

Aurora


(Foto: Kevin Smith)

Se o Tempo

Desperta,

Morre o mundo.


Rodrigo Almeida e Sousa

Cada lágrima contém um oceano

(Foto: Autor desconhecido)

de Anderson Santos, in "Grilos"


01

... vão caindo, mansamente, pelo rosto,
olhos vidrados por desgosto,
imolamento,
aflição que se deglute,
permanência dum sofrimento,
traçam rasgos por onde passam,
acentuam rugas existentes,
profundas,
deixam marcas por ausentes,
saudade duma partida
na hora da despedida,

lágrimas como pérolas,
brilhantes, redondas, belas,
manifestação que se tem,
oceano que se não contém,

sofrimento que alivia,
dor que esquece,
dique que rebenta por alegria incontida,
pequenas coisas da vida,
extravasar de sentimentos
em alturas, em momentos,

cada lágrima, um universo,
no âmago, no inverso,
contradição quando surge,
enormidade que ruge,
simples apontamento,
detalhe que se posta
quando se abraça, se gosta,
aflição que nos agasta,
nos reduz, nos arrasta,
induz alívio constante
num mau pedaço de vida,

à chegada, à partida,
alegria na tristeza,
dor que se sente
quando se recorda o ausente,
cada lágrima um oceano
de verdade, de engano,
no ciúme, na paixão,
no amor que se tem,
não está na nossa mão
tudo qu´ela contém!!!...

02

a emoção é com razão
um motor e a decisão
do mais inesperado

rastrear do decisivo
processo do coração

onde se chora na Hora

vou coleccionar palavras
sem nada dizer até
conseguir chorar

como quem chove
no molhado

procurando dos versos

procurando dos versos
um poema que valha
verter uma lágrima

ou coisa que a valha,
pensando bem:

talvez um oceano!...

03

as lágrimas fugiram dos meus olhos
se esparramaram feito deserto furioso
abrasando minha pele de saudosa dor

fechei os olhos e dormi o sono dos justos


04

reflectem-se os deuses no brilho polido
do convexo ventre do universo
Dizem-se branco azul sonham ocre
essas efémeras nuvens
fêmeas de marear sustido

No vai e vem de cada lágrima
ceva um mar no Olimpo enorme

Cabe na Palma toda a vetusta idade

Que se afoga na simples
luzidia e transparente
gota de verdade

Assim tem sido
assim seja
por toda a eternidade
condenados

05

O seu olhar fala um idioma de silêncio
e o eco por dentro dos músculos
trai o som preso na língua
nele o grito do desespero se acumula
como rio de inverno na direcção do mar
Pudesse o temor e medo e dor
correr no alívio e sabor da lágrima ou
o mar suspenso dos seus olhos
inundar de som o seu sofrer e assim
aplacar a descrença das madrugadas

Como pode um deus esboçar o azul do oceano
de lágrimas contidas no silêncio?


06

Ah, ao azul marear
[ficção ou verdade?]
de uma ou outra lágrima ...
guardadas num borrão
de tinta, prensadas, para
que ninguém se aperceba
[cicatrizes]
impedem que eu me debruce
no tempo, e respire do mar
alguma proximidade.
talvez um ofertório de poesia
aos deuses na praia
em madrugada nova
afogue a crença no vazio da casa
talvez a inscrição, num mapa
sem território, da lembrança
de uma só gota do oceano
"a maior lágrima"

07

... por paragens impensáveis,
lonjuras que confundem,
paroxismos inenarráveis
no íntimo de cada um,
crueldade que se não dimensiona,
agiganta, impressiona,
quando se conjunta,
une,
esgarro que não aninha,
temor que desalinha,

forças maléficas
que não suportas,
tanto aguentas,
emudeces perante,
soltas torrentes incontáveis,
formas lágrimas de pesar,
oceanos de horizonte púrpura
sob sol incandescente,
temor vulgar de inocente,
cáustico que se castiga,
carrega assombração terrífica,

oh Deuses que estais ausentes,
tão impotente te sentes,
sofreres, falsas partidas,
te quedaras num sentido,
cerrado em pútrido casulo,
vontade amorfa, nascituro indefinido,
gota rosada sem face,
rolando em parte incerta,
criatura que não desperta,

seres que profanizam
templos que derramam chamas
ácridas que incendeiam,
despautérios que te reduzem,
lágrimas que soltas em silêncio,
teus penares,
desperfeitos,
oceanos de águas fundas,
longos sofreres,
antes não foras parido,
intenção... num desvario,
cenas ocultas,
desafio!!!...

08

Gota que me embebe.
névoa, orvalho
Eu mero grão de areia.
Um traço apagado
no mapa que foi pasto;
eu chamas,
tu oceano.
Cicatrizes que não vejo
mas sinto em cada som
nascido e morrido
em cinzas
de palavras.
O ar também chora:
invisível e pó,
nas pontas dos dedos...


09

tenho apenas estas quatro mãos,
por sentinelas do devaneio.
mas bastam pro temporal,
sem que as palavras me arrastem.

10

para te ver feliz
mergulho no oceano
de cada lágrima tua
e deixo-te a serena maré vaza
trazendo a maré alta
onde se condensam
todos os oceanos cristalizados


11

luz e lágrima sempre
escorre pelo rosto
no papel que me toca
[enorme
a emoção do teorema]
do proposto
afago o alento
adormeço na fome
de mar satisfeito

12

nada falta ao sal da emoção
pois não dá só tempero
é puro alimento -

por uma lágrima correm rios
com nascentes na alma

onde se encontram há (o) mar


13

Quando descasquei minha primeira cebola
descobri:
nem toda lágrima carrega um oceano.

14

que oceano verte os meus olhos
se do sal peregrino resta a ilusão
da viagem?

que mar, e que navio leva o vento
se porto algum se oferece à aguada?

que rotas e que estrelas guiam o leme
da desventura?

que mapas, cartas o tê traça o azimute?

que gajeiro vê para além da bruma?

lágrima gota na invenção da escrita.


15

de que matiz
é a pena
a matriz
de uma lágrima?
o que diz
- pequena -
não condiz
com a grandeza
do pesar.

16

noite sombria
em que o meu rosto escurece
induzem os contornos da lua
uma azulada solidão
que me atraca o corpo
como barco em ancoragem
as caravelas porém
navegam
unindo ao oceano
cada lágrima minha


17

lágrimas cintilantes
nascem dos olhos dos poetas
[crianças - livres]
como se oceanos acordassem
cada peito uma brisa
de palavras alvas
e mansas
se quedassem
reflexivos imanentes

18

canto oceanos ignorados.
a ultima lágrima
caída no silêncio
do adeus vazio
em meu verso navegante
por não poder chegar a ti.


19

caiu a lágrima no chão
e faz-se assumir com personalidade.
abre-se a boca debaixo da terra
e rasga um coração de ferro.

num frenesim mágico
vomita raios de luz,
tranquila a lágrima
começa a metamorfose.

sente-se o frio do silêncio.
a dança do limbo é reinventada,
dissolve-se ao longe nas margens
num mar esventrado.

paralisado o ar,
contém sorrisos doentios
e palavras terríficas.
entra o primeiro acto de loucura.

e nos poros
descansa a poesia no oceano!

20

No oceano da lágrima
navegam gritos
sem porto de salvação

Acabam por dar à costa
e a barbárie esconde-os
na vala comum

No oceano da lágrima
há milhares de botões
que não puderam abrir
tenras asas proibidas de voar

Dilacerada, a inocência
estremece nas garras
do gigante Golias
e não há pedra
que atinja a sua fronte

No oceano da lágrima
há trepadeiras de poemas
enleadas no silêncio
da garganta

E há também sonhos
que montam as ondas
como se fossem potros
e nos devolvem a primavera

No oceano da lágrima
há cactos que resistem ao sal
e crescem em direcção à luz

E sardinheiras em flor
na varanda da memória

Um mundo que não cabe
dentro das palavras.

21

Mas são elas caravelas
prontas para o descobrimento.
Afrontando os pensamentos
nas rotas loucas do sentir.
E no mastro sentinelas,
espreitando a longa escuridão,
arrastam o anseio pela chegada.
Desse momento em que a Armada
descarregue o oceano de palavras,
que tarda em lágrimas de solidão.



Índice de autores:

01 – Manuel Xarepe
02 – Assim
03 – Osvaldo
04 – Luís Monteiro
05 – Bernardete Costa
06 – Sónia Regina
07 – Manuel Xarepe
08 – Carlos Luanda
09 – Sónia Regina
10 – Teresa Gonçalves
11 – Luís Monteiro
12 – Francisco Coimbra
13 – Denilson Neves
14 – José Félix
15 – Dalva Agne Lynch
16 – Vera Carvalho
17 – Luís Monteiro
18 – Teresa Gonçalves
19 – Lena Maltez
20 – Maria João
21 – Carlos Luanda







Comentário do Moderador:

Amigos, assim é que eu gosto. Foi enorme a
dificuldade para gerir e elaborar uma sequência
minimamente lógica do poema, pois são tantas
as imagens e mensagens conotadas a cada verso,
que receei perder-me da vida e vaguear em cada um,
como se o sonho me tomasse, e a realidade, mais
não fosse que uma utopia do poeta.

Vocês são lindos. Parabéns!

Escreveram lindas metáforas,
tão sedutoras e enleantes,
que toda a alma se desfaz
liquefeita, como lágrima de
marés em vasto oceano,
que adormecida, recusa-se
a
acordar?...

Obrigada...
luís

segunda-feira, 28 de maio de 2007

Vida


(Foto: Zélia Paulo Silva)

Na semântica escravizada de emoções partem-se galhos brancos sem flor
Caem folhas vermelhas de rubores escondidos em tocas arcaicas e
Deslizam no vento as memórias amarelas dos corpos sem som.
Sento-me no chão estalado com tinta dos teus olhos nas minhas mãos
E pinto o chão da cor da tua pele e retrato a nudez da minha vida.


Mónica Correia


(Foto: autor desconhecido)

De que me forjo? O que sou?
Talvez madrugada ou anoitecer
Mas sempre e tão só (se estou)
Aquilo que me é deixado ser.

Alves Bento Belisário

Acto Sublime



( Foto: Jorge Palha)


Todo o acto de escrever
É uma experimentação.
À luz de uma ideia, fósforo de
sumida
chama periclitante,
no vendaval do pensamento.
De um sopro nasce,
num gesto se fina,
ou define.
O que sobra é sempre o desgosto
- da solidão que se aproxima,
mergulhada na escuridão
e indefinição.
Terá sido a iluminação suficiente?
Para que se faça luz,
cá em cima
e o coito de escrever seja na razão
o prazer sublime.

Luís Monteiro da Cunha

sexta-feira, 25 de maio de 2007

Saideira

( Foto de Albert Watson)


Duas mãos nascidas para dar o outro lado
Do poema e ainda outro sem que a palavra
Se parta contra o vinho, a sua flor, o seu
Aroma, quando em pó nos desfizerem
Nos cestos das lembranças. Talvez.
A voz passe por uma vinha, erguida na
Madrugada da Humanidade onde me esperas
Tens ainda coração para me perdoar
Antes da saideira.

José Gil

quinta-feira, 24 de maio de 2007


(Foto: Autor desconhecido)


dobra o pecíolo na ventania
e a folha
na nervura do tempo cai no fio de água
deixando esporos na margem da sede
na penumbra.

José Félix

quarta-feira, 23 de maio de 2007

1ª Antologia "Amante das Leituras"

Para uma melhor vizualização, clicar em cima da imagem!


Poema

(Foto de Zena Holloway)


o pensamento no fulgor da língua
perde as suas palavras maiores
o casulo do verso
é a apoteose do sentido
a imaginação de tudo acontecer
no interior do olhar
fechado

Jorge Vicente

terça-feira, 22 de maio de 2007

Gueixa



Mesmo que não saiba as palavras
elas que me saibam ao sabor
que tu deixas em minha boca
gueixa abençoada do amor

A nossa língua percorra
todas as partes com Arte
maior que o pensamento!

Neste momento eu queria morrer
só para beijar a tua boca,

coisa pouca…até morrer de amor

Francisco Coimbra

Entrevista a Ana Maria Costa*


Por Vera Carvalho e Carlos Luanda


1. Ana Costa, como surgiu a ideia da criação de uma lista de poesia? E qual a sua finalidade?

Ana Costa -
Vera e Carlos, a ideia da criação da lista surge na condição de desafio às minhas capacidades mentais e físicas. Depois de conhecer a primeira lista de poesia na Internet, a lista "Escritas" do José Félix, conheci a Maria Limeira e a sua lista "oficina_literária", e, senti uma vontade, um grande desejo de criar uma lista minha e criei.
Vera e Carlos, a finalidade da existência da lista é aquela que todos damos quando publicamos os nossos trabalhos, comentamos e criamos laços entre todos. Porém, para amim, as maiores finalidades são a de ensinar e motivar a novas criações e evoluirmos em conjunto com as actividades do grupo, por isso, nela estão professores e alunos.

2. Sabemos que é uma Amante da Leitura, mas podemos dizer que é uma "dedicada entranhada da Escrita"? Quando se deu conta desta vocação?

Ana Costa -
A minha vocação não teve hora ou dia. Nasceu e pronto!
Perto dos quarenta comecei a escrever textinhos e frases para os meus colegas de trabalho e familiares. Com dificuldades escrevia o que saía no momento em prosa ou frases soltas. Mais tarde quis saber se conseguia fazer poesia e fiz.

3. Ana, porque escreve poesia? Diga-nos qual a sua motivação interior profunda?

Ana Costa -
Começar a escrever poesia tornou-se um desafio no princípio e depois um amor. Às vezes, paixão, lume e a "pior" de todas estas características é a necessidade urgente de o fazer. Durmo e sonho poesia, em viagens levo na mala poesia, enfim! Talvez eu deva consultar um médico e peça para fazer uma ressonância à porfundidade da minha alma.

4. O trabalho poético que tem vindo a desenvolver é infundido em algumas referências que queira partilhar connosco?

Ana Costa -
O trabalho é infundido em conhecimentos que adquiri no início das minhas andanças nas listas e outras que considero úteis para as incluir na lista. Mais uma vez falo dos amigos e de um em especial: o José Félix em quem reconheço um esforço em divulgar a cultura e incentivar jovens ou quem se inicia nas lidas de escrever. O Félix conhece a língua que escreve e a ensina a quem não a sabe muito bem. Ele tem paciência de um professor perante alunos rebeldes ( o meu caso, hihihi).
Não pretendo imitar mas aproveitar o que considero bom e, se possível compilá-lo numa só lista. A diferença entre as listas está nas participações dos membros. Considero esta actividade/competitividade de natureza sã.

5. O advento na Internet,, na sua opinião, é benéfico para a divulgação da poesia e da escrita em geral?

Ana Costa - Sim! Na minha opinião a Internet é benéfica para a divulgação da escrita em geral porque é um meio de transporte entre nós e os outros.

6. Como participante do grupo "Amantedasleituras", sabemos que se empenhou bravamente para a edição da 1ª Antologia Poética "Amantedasleituras", cujos 18 autores fazem parte deste grupo, incluindo a Ana Costa, e terá o seu lançamento no dia 2 de Junho.
Fale-nos um pouco deste livro.

Ana Costa - Este livro ou antologia não é mais do que um objectivo antes pensado e desejado, agora uma realidade. Falar da Antologia é falar de todos que fazem parte da lista mesmo daqueles que não participam. É a materialização do virtual e um passo seguinte no nosso caminho.

7. Agora abusando e utilizando uma epígrafe sua "condenem-me o coração à morte" desafiamo-la a responder à eguinte questão:
Se o seu coração fosse condenado a amar um só livro para toda a vida, a lê-lo, a relê-lo sem aborrecimento, qual escolheria e porquê?

Ana Costa -
Vera e Carlos, falando de amor para toda a vida penso no amor espiritual e único que, para mim, dura toda a vida. O livro que escolho para ler até ao final da minha vida é a Bíblia. Porque creio na sua palavra e ensinamento.


*Ana Maria Costa
É Portuguesa, nasceu na freguesia de Pedras Rubras, cidade da Maia, a 17 de Março de 1966.
Hoje, vive em Águas Santas, freguesia da cidade da Maia.
Exerceu a função de administrativa especializada na direcção financeira na àrea da Distribuição, gosta do que faz mas tem amor pela poesia e escreve por vocação.
Começou a escrever só para amigos lerem, a seguir para publicações da empresa onde trabalha.
É uma sonhadora e sonha mudar o mundo da poesia!
Já fez teatro amador e dança , mas o seu amor é a poesia - ao escrevê-la ou recitá-la quer fazer chegar aos leitores a poesia viva e actual.
É fundadora da lista de poesia "Amantedasleituras" que conta com perto de 100 artistas nacionais , alguns do Brasil e Argentina.
A lista é uma veia onde circula a poesia de cada um e, também, comentários e pareceres profissionais.
Ana Maria Costa tem dois blogs pessoais:

"Bebo-te como água que rebenta da nascente"

de Vera Carvalho, in – "Hoje acordei no verde musgo dos teus olhos"
(Foto: Pré-fusão, de Helder Almeida)

1

A natureza desperta para o murmúrio
das águas, para a flor e para o silêncio
que mora no movimento da sede
e cresce nos lugares mais inusitados
do rio, ao encontro das ondas.

Num fluir discreto se escuta a paixão
da voz ausente, oculta na floresta interior.
É lá que ressoa a vida e não no areal
sem brinquedos onde nada irrompeu,
da raiz enroscada na pedra,
senão uma rosa escarlate.

Desmanchou-se em pétalas,
pela chuva suave, e entregou-se
ao acolhimento das marés
na ressaca da `maior lágrima, o mar' ,
onde nadou sem mais se debater,
em direção ao horizonte.

Nenhuma palavra acesa na praia
à qual não se tardaria alcançar:
por aceno, um rastilho de sílabas...

2

… como nascente de água pura,
cristalina,
remanesce em ti minha sede enorme,
meu pecado, minha menina,
sequioso,
deserto de pensamentos que mantenho,
fixo no teu todo, no teu rosto,
fulcro do meu desgosto,
sustentáculo que retenho na minha existência pequenina,
vulgar,
perante amor tão portentoso,
dedicação dum escravo adornando um pedestal,

tentação,
fruição que me sustém porque me segue,
embota meus sentidos, sempre a pairar,
perdido nos meandros da multidão,
tão só,
sede que me avassala, me sonega,
cala,
obstrui qualquer tipo de sensação,
vontade intensa de te beber, garganta seca pelo pó,
nó górdio que me impede, cega,
loucura, paixão, mansidão
apascentando a dor,
final de tensa refrega,

mendicante em terras de fartura,
nascente de água pura,
verdejantes campos em tempo de sequia, flor que ruboresce,
fantasia que em mim cresce,
formosura,
complemento que sustenta quando intenta,
brota, rebenta,
doença que se ofusca, desaparece,
minha cura,elixir p´ra tanta amargura!!!...

3

aqui tens a minha sede. as pedras dos rios
somente satisfazem a urgência maior
e nada diz de ti esse fio líquido que a sede sacia
queria beber-te nas ondas do teu ciúme
e despedaçar-me no desejo dos teus lábios
queria alcançar a nuvem e colher a rebeldia
das gotas exaltantes dos teus beijos
queria a ribeira da tua pele como a água
que rebenta das fontes
e unidos na mesma sede alcançar o estertor
na cintilação dos mesmos horizontes
queria o incêndio escrito na mesma sede
e morrer no martírio de doçuras de amante

aqui tens a minha sede: fogo e água da tua boca
ardendo no azul de águas murmurantes

4

bebo-te como água que rebenta da nascente,
pouco falta pra que me alcances em tua mão

Se fluis líquido, o teu verso é linimento, l
iga afetiva que une o verbo à ação, fogo
vivo, esse teu toque vigoroso
o paradoxo com que lapido a construção.

5

Para que
um sonho
seja realidade,
são meus olhos
oceanos
que um dia...
secarão na eternidade...!

6

Sou a secura esquecida que brota da mente.
Sem passagem de vento
atravessando sem chegada…
A simplicidade oca do não existente
O mais além quero
que nem atrever intento.
Sou a grandeza sem peso
do zero sem começo
O saber ser menos
que o nada e o nunca
Sou origem sem sede
sem raiz ou nascente
Não bebo nem sinto
Sou do Ser; diferente
Nem tenho o drama
de existir no vazio.
De ter desejos de mapa
de areias,
Navios.
Sou menos que um ponto
escrito no final.
Nem tenho começo
nem meio nem nome
Ser chamado Nada
Já me é enorme…

7

da longa caminhada
o fim: chegar a ti.
E de repente
parece como nada
o deserto percorrido.

8

nos teus olhos só silêncio, a flor da fome
de silêncio pedra clara para um canto
limpojá dou passos mais largos, um pacto
que bebo num copo de égua que ganha a
forma do meu corpo, o corpo denso

9

contínua, a folha arborícola baila,
radiante - desejo de asas perfeitas –
do corpo das aves
Serão olhos, gotículas matinais,
onde sempre mora o flamejante raio
libertador, do cerúleo azul,
tão puro, virginal,
que traga a sensação infantil
Bebo-te, manhã ímpia,
na margem da loucura
escorres de nascentes ocultas,
dos trinados
pelo puerpério dos olhos carentes,
de feto e negaça, em que olvido

10

bebo-te
e afogo-me
de novo

memória
onde sempre
és eterna

na nascente
inconfundível
da infância

11

Maria, minha filha
Tu és a fonte que me dessedenta e alimenta
Eu era cego, e passei a ver(-te)
Era surdo, e me fizeste ouvir(-te)
Eu era homem, e me tornaste um deus.

12

Na beira do mar,
O barulho das ondas!
Na beira do rio,
O canto das pedras!
No pé da montanha,
O soar dos ventos!
No pico mais alto,
A magia das estrelas,
Da lua,
Do sol!
No início da estrada,
Ecos do medo!
No fundo da alma,
Um grito de veludo!
Na palma da mão,
Um encontro
Com o mundo!
Barulho de ANJOS,
SONS DO MUNDO

13

volto ao tempo do não tempo, ao cheiro da bicicletae
da mão da minha avó, que me levava às nuvens
onde voávamos e víamos bichos; e à fonte, onde bebíamos

eu bebia e nunca me afoguei naquela força – nem da mão,
nem da fonte - que me nutriu de mares, naus catarinetas,
quadras; visões que ainda tenho, das quais alguns rieme

eu os deixo, envolvidos no mundo de linhos e faraós mortos

a vida floresce na natureza e nas pessoas, e eu a bebo
como água que rebenta, e me embriago
e me vejo aldeã, pastora, princesa, santa e bruxa

e passeio, por essas almas e corpos, e por outros mais
que só olho, miro – sem ver - e canto a vida
que rebenta como uma folha que rompe o caule

e então me escrevo, a mim e a tantos outros que abrigo
e a tantos quantos forem os que me habitarem
porque temos, em todos e em cada um, a meninice da vida

e por isso somos, e em nós ela existe,
a poesia.

14

no silêncio entrego-me na paixão
de amante ardente.
quero saciar minha sede
e beber em ti
os frescos cristais transparentes
que rebentam da nascente
de cada palavra que invento
para ti: poesia...!


Índice de autores:

01 – Sonia Regina
02 – Manuel xarepe
03 – Bernardete Costa
04 – Sonia Regina
05 – Teresa Gonlçalves
06 – Carlos Luanda
07 – Dalva Agne Lynch
08 – José Gil
09 – Luís Monteiro
10 – Francisco Coimbra
11 – Denilson Neves
12 – Nina Rocha
13 – Sonia Regina
14 – Teresa Gonçalves

segunda-feira, 21 de maio de 2007

Dos nossos dias...

Foto: Joyce Tenneson

Nos dias preguiçosos em que nos deixávamos cair dentro de nós, a música era toda bolhas cheias de notas afinadas. Queríamos dançar muito, noite fora, dia dentro, como se mais nada bastasse para preencher o espaço que restava em nós. Nos dias da luz, onde víamos pássaros, a ténue liberdade dos gestos era toda a serenidade forçada do desejo. Nos dias das flores murchas, em que nos sentávamos nos parapeitos frios, no ar riscávamos palavras e os olhos fechavam sem medo do escuro.

Como poderíamos ter passado despercebidos se os nossos corpos ocupavam o mundo todo conhecido pelos mortais?


Filipa Rodrigues

domingo, 20 de maio de 2007

Feitio de Pai


(Foto: autor desconhecido)

O pai do meu céu interno
é feminino

formas e feitios arredondados

útero
que me acolhe

som
em forma de canção de ninar


que me embala

Eliana Mora

sábado, 19 de maio de 2007

Luz



Foto de Fabrício Sousa

Queria ter luz!
Tecido e ar.
Envolver-te a nudez
diluído em maravilha.
E descobrir a minha ilha,
que está no fundo do teu olhar...
Sentir-me sempre no começar
Raio de luz em descobrimento
e viver a todo o momento
A alegria e o tormento
do teu corpo procurar...

Carlos Luanda

sexta-feira, 18 de maio de 2007

Não há varinha de marfim...


La Musique, Gustav Klimt

não há varinha de marfim
de condão ou similar que justifique
ou resolva uma aflição
somente uma varinha singular talvez faça
vibrar as cordas da lira
numa música de espantos no dia que se vira
…e prossiga redentora em seus prantos
podendo no eco do som dilatar
uma derradeira palavra de amor.

Bernardete Costa

quinta-feira, 17 de maio de 2007

O Pedreiro



(Foto de Vertigo)

Penso no olhar velho do meu pai
e desenho uma rua.

Removo a pedra, o pó e o rio do
caminho.

Deito a chuva na sombra
com as pequenas ervas
e ao meio-dia
espremo da testa o sol,
dou à pedra a força, à flor o meu grito
e ao semblante o horizonte.

O apito e o arroto
leva o farrapo branco à boca.

A pensar no olhar velho do meu pai
esfrego as mãos na ferramenta
e bato na terra.

Numa berma assobia a morte
Na outra canta a vida.

A pensar no olhar velho do meu pai
Desenho o seu destino.

Ana Maria Costa

quarta-feira, 16 de maio de 2007

Mão ausente


eu moro numa rua estreita e íngreme. à noite tão só alumiada pelos lampiões. eu deito-me no chão a escrever. à luz do lampião defronte da minha sala. há uma parede de pedra que tem uma pedra negra. sobrou de um incêndio que houve há mais de cem anos. a noite cai dos telhados de silêncio. a casa está aqui perto. quando estas palavras forem ditas no interior dos teus olhos. estarei lá. quando leres e deres voz ao que escrevo. o lampião de ouro embaciado há-de iluminar o reflexo destas palavras no teu olhar. é isso que importa. e se estenderes a mão. devagar. ao longo do texto. conseguirás tocar-me. conseguirás tocar a pedra. e uma pedra queimada. uma vez tocada. é uma mulher amada para sempre.

Alice Campos

terça-feira, 15 de maio de 2007

Esta manhã, Amor


Há esta concepção de pólen
entre o que os teus lábios guardam
e o lóbulo da minha orelha, a milímetros
de um viço baunilhado, ou macio vício
prestes a brotar. Doces, a flor
e o segredo…

Alexandra Oliveira
O lançamento da 1ª Antologia da lista "Amante das Leituras" irá decorrer, no dia 2 de Junho, na Sede da Junta de Freguesia, em S. Mamede Infesta -Matosinhos, pelas 15:30h...
Na Antologia participam 18 autores, com poesia, sendo eles:
- Alexandra Oliveira
- Alice Campos
- Alves Bento Belisário
- Ana Maria Costa
- Bernardete Costa
- Carlos Luanda
- Eliana Mora ( Brasil)
- Filipa Rodrigues
- Francisco Coimbra
- Jorge Vicente
- José Félix
- José Gil
- Luís Monteiro
- Mónica Correia
- Rodrigo Almeida e Sousa
- Teresa Gonçalves
- Vera Carvalho
- Xavier Zarco.
Durante o evento poder-se-á assistir a declamação de poemas dos diversos autores, a uma pequena actuação musical e, por fim, a um bailado.
A responsabilidade da edição do livro está a cargo da Ediumeditores, e é a concretização do sonho da Ana Maria Costa.
Estão todos convidados e intimados a comparecer!

Consultar o mapa e procurar a R. Silva Brinco em:
http://jfinfestaroteiro.no.sapo.pt/


"O choro é uma emoção transbordante onde só lavo os olhos"

de Francisco Coimbra, in "Sublimação"


1

… são vagas que brotam dos olhos,
ondas que resfolegam nas praias,
maresias que se espalham pelos ares
são sons, são seres nos mares

… esbracejam ofegantes
na imensidão dos sentires,
soçobram exaustos, como antes,
vencidos nas dores dos porvires,
cáusticos, medonhos,

tenebrosos… são sonhos,
pesadelos que assombram
teus choros
transbordantes que lavam teus olhos,
são emoções agitadas nos escuros,
são corpos esbeltos e… puros!!!...

2

uma emoção transbordante

na liberdade bêbeda
- um pássaro


solto

nas palavras


com vertigem viva - voo.!.



a imaginação sem margens

a amar o Universo

a desenhar


o limite da viajem

o horizonte


ao percorrer um verso vivo


ave n_as as_as as_saltando

a realidade numa

agitação


semelhante ao leite

alimentando


vida duma criança sôfrega!


3

por isso ainda não falo, este silêncio
que faz as costas, não querer arrancar
as vinhas do silêncio, desejo de abraçar
as uvas em letras brancas de um choro

a linguagem do vinho, um pouco depois
lavo os olhos nele


4

Não arrefece esta mistura de dores
em estado de fusão
Há maneiras de sentir
que nunca cristalizam
E o choro não lava a dor. Apenas os olhos.


5

brota da noite como água de nascente

virada choro em que se lavam os olhos
como o orvalho que escorre na folha

nunca guardadora de emoções

transborda do copo, sem corpo
um cortejo líquido que tudo revela


6

… gotícula que tenta cair pelo canto do olho,
sensação de tristeza imensa que assola,
humidificação dum órgão que é janela,
persiana aberta que cerra,
parpadeante,
teimando em apreciar o que avalia,
recorda,

acorda gigante que se eleva,
inquebrantável,
gélido cume que acumula alvuras,
insustentável,
avalancha que se inicia com estrondo,
estampido,
jorro continuado que se avoluma,
rola pela encosta aos borbotões,
lava males de alma, corpo que sente,
cúmulo dum sofrimento que acolhe,
sem controle,

espasmos que contraem rosto,
copiosos,
êxtases que nos confundem,
contornam,
envolvência que nos conduz,
chorosos,
euforias inebriantes,
lágrimas se soltam,
lavando sujidades já vistas,
depreciando, aliviando,
transbordando,
ridentes,
são torrentes cristalinas,
pura concretização de alegria incontida,
pedacinhos de vidas,

vale da amargura que se forma,
éden encantado que dispomos,
somos como fomos,
tristezas, alegrias, sonhos,
águas mansas que se juntam,
alegrias sucessivas,
depressões,
calmaria que se estende,
acumula,
coração que chora, pula,
janelas em que assomam lágrimas
gélidas de sofrer,
tépidas de prazer,
emoções!!!...


7

magoa-me sim! magoa-me.

ver

soltarem-se dos teus olhos

pérolas salgadas.

tão nítidas

tão silenciosas

na ausência do amor

na presença da dor

( acto, gesto, palavra, perda )

e um oceano de pérolas

transborda de dentro de ti.


quem és? quem sou ? : - não importa !

o importante é:

saberes eu estar entre ti e ti

unidos pela energia Superior do Universo

nesta viagem de empréstimo

em progresso retrocesso

retrocesso progresso

e que...

lavo os teus olhos nos meus.



8

Secaram os olhos como as fontes

as fontes secas não saciam sedes de gentes

e as lágrimas ausentes não lavam dores e cansaço

Somente as emoções transbordantes do choro

onde lavo os olhos como em fontes de águas

permitem que a ternura disfarçada do abraço

apague incêndios apertados na garganta

ainda que ateados com cebolas e cloro.


9

Claros são esses olhos

Brilhando nos meus

Incendeiam emoções

Neste peito ofegante

Surdo choro remanesce

Na túmida comoção

De terno instante

Brama do que cresce

Diáfano mito e visão

Transbordante onde só

Lavor pode rimar com o amor

Expensas da percepção

Claro por esses olhos

Corre um fio de prata

Aurificado como flor

Na manhã clara de nevoeiro

Quando do leito partes

E ficas no doce cheiro

Onde só lavo os olhos


10

quero um simples cotidiano,
nada de acordes inimaginados.
por favor, não me deixes sem ti
num arranjo jazzístico que arrepia
e causa desejo de improvisar,
numa aventura de corpos e almas
que se experimentam e se buscam.

que silenciem todas as emoções
quando partires, e seja o choro
um meio de umedecer a alma.


11

Abandona os olhos ao orvalho e o corpo à planície

Descobre o sol e não lhe escondas o corpo, despido

o dia move-se pétala sobre a noite ainda viva, toca-a

no banho do transbordo do rol frio e morno e

doa o choro à margem da vida


12

O Sentimento
lenta e suavemente
transborda dos olhos
fertilizando a superfície branca
por onde brota
choro e desabafo.

13

Caem pedras sobre o rosto.
Nacos a desfazer-se
Sem mais dor que acrescente.
Gatos assanhados
Rasgam as unhas.
Mudos
Na escura privacidade
das palmas das mãos.
O mundo rebenta por dentro.
O desejo do todo
Enche-se das ânsias do vazio.
Apenas vagas.
Surdas de silêncio
Transbordam
Em nadas
Onde ninguém as entende.
Só as estrelas se emocionam.
Nascem expontâneas.
Em pratas e águas
Caravelas de céu que vejo
Na dança do mar
Onde os olhos lavo de vermelho.

14

as pedras dormem, encantadas
pelo corpo imaginário
de voz ausente, vê vagas alheias.
o que não se fala não se escuta,
talvez a linguagem tenha exagerado
no silêncio, envolta num cuidado
demasiado, sem sons.

o choro vermelho sobe ao céu,
ferido de granizo.
as lágrimas evaporam
e das nuvens retornam,
chuva cristalina.

as estrelas se emocionam,
contemplam de longe, sorriem
fora do ciclo.


15

aguaceiro inunda,
esgrima na esquina da alma.
no tempo certo,
transborda no ralo dos olhos.

água demais ou de menos mata.
na dose certa hidrata.


16

Nos meus olhos

sempre fechados

dizias:

"consigo ver para além

do mar que separa a ilha

do continente."



E eu silenciei-me...

Indíce de Autores:

01- Manuel Xarepe
02 - Francisco Coimbra
03 - José Gil
04 - Maria João
05 - Sónia Regina
06 -Manuel Xarepe
07 - Teresa Gonçalves
08 - Bernardete Costa
09 - Luís Monteiro da Cunha
10 - Sónia Regina
11 - Ana Maria Costa
12 - Denilson Neves
13 - Carlos Luanda
14 - Sónia Regina
15 - Rogério Santos
16 - Filipa Rodrigues