por Vera Carvalho e Carlos Luanda
1. Mónica Correia, sabemos que a tua escrita literária se iniciou na adolescência. Existiu alguma influência marcante que te levou para a poesia?
Mónica Correia - Desde criança que gosto de ler, li livros infantis e quando comecei a entrar na adolescência li as aventuras típicas da idade como os Cinco, os livros sobre droga: Christian F, Viagem ao Mundo da Droga e ainda baseados em histórias verdadeiras como Papillon de Henri Charriére. Quando entrei na minha adolescência hormonal devia ter mais ou menos 15 anos (é que eu era atleta de competição e isso atrasa o desenvolvimento) sentia-me a mulher mais incompreendida e infeliz do mundo…até encontrar um livro de poesia de Florbela Espanca na Biblioteca Municipal de V.N. Gaia e descobrir que havia mais mulheres que pensavam e sentiam como eu. Aí começou esta descoberta que é das únicas coisas a que me mantenho fiel: a poesia.
Mónica Correia - Desde criança que gosto de ler, li livros infantis e quando comecei a entrar na adolescência li as aventuras típicas da idade como os Cinco, os livros sobre droga: Christian F, Viagem ao Mundo da Droga e ainda baseados em histórias verdadeiras como Papillon de Henri Charriére. Quando entrei na minha adolescência hormonal devia ter mais ou menos 15 anos (é que eu era atleta de competição e isso atrasa o desenvolvimento) sentia-me a mulher mais incompreendida e infeliz do mundo…até encontrar um livro de poesia de Florbela Espanca na Biblioteca Municipal de V.N. Gaia e descobrir que havia mais mulheres que pensavam e sentiam como eu. Aí começou esta descoberta que é das únicas coisas a que me mantenho fiel: a poesia.
2. Como Mulher, como difícil arte de o ser hoje em dia, como consegues conciliar os papéis de esposa, mãe, dona de casa, profissional e poeta?
Mónica Correia - Nada na vida é fácil e há sempre alguma coisa que vai ficando para trás…
Um dia, algures na minha adolescência, confrontei a minha mãe com um elogio que um professor lhe tinha feito a respeito da minha escrita ao que ela me respondeu que seria bem melhor que eu aprendesse a limpar o pó! Mas definitivamente limpar o pó não "faz o meu género"! Por isso, sempre que posso é o papel de dona de casa que vai ficando em espera. Quanto ao resto faço os possíveis para os desempenhar da melhor forma mas só perguntando aos intervenientes em questão é que poderemos confirmar!
3. Mergulhando nas tuas palavras:
" Cânticos de silêncio que grito nas pautas de vida,Acordes sem acordo e desconcertante hipoteca de som.Escrevo a letra imaginária que cai dos olhosE se transforma em arlequim da poesia singular.Sem as cores que reflectem o cristal do teu olharSem o brilho perfeito reflectido da pele de vidro.Canto a voz que se agarra aos meus dedos mutáveisE deixo cair palavras na página finita de dias. "
Qual o sentido da tua mensagem poética? Pretendes expressar os teus sentimentos pelas palavras?
Mónica Correia - As histórias contam-se nas palavras do corpo e no corpo das palavras.
É um misto de emoções com necessidade de criar.
4. Citando Maria Teresa Horta "Não há nada que a nossa voz não abra", Mónica que portas abririas ao futuro da humanidade?
Mónica Correia - Da tolerância e respeito à diferença. Todos nós vemos o mundo de forma diferente e presunçosamente achamos sempre que a nossa forma é a mais correcta. Devíamos ser mais tolerantes e respeitar a visão dos outros.
5. Mónica Correia. Concordas com a afirmação de que toda a poesia é feminina ou pensas que o fenómeno poético está ligado a um universo de género indefinido?
Mónica Correia - A poesia é como os anjos: não tem sexo, no entanto pode ser muito sexual e assim sendo está indiscutivelmente associada aos homens. Não, não são os homens com falo de que falo, mas sim a humanidade! È uma forma de criação pintada de palavras.
6. Vejo em ti um espírito inconformado e lutador. Certamente autocrítico também. Como analisas a tua própria poesia?
Mónica Correia - Como pequenos retratos que tiro na realidade suspensa com a cor da fantasia. Quando vou ao baú sinto os poemas velhos e sem força, mas guardo-os novamente, fazem parte da caminhada. Continuo a tentar escalar a montanha mas muitas vezes sento-me cansada e espero que o céu se pinte de outra cor para voltar a escrever.
7. Achas que um poema é apenas uma semente ou lês a articulação das palavras como quem segue com o olhar os ramos duma árvore?
Mónica Correia - Todas as palavras são articulações: "a insustentável leveza do ser" é constituída pelas ramificações dos ossos nos poemas do corpo. Deito-me nos desvios dos ramos e colho a poesia, às vezes verde, às vezes madura, mas sempre com sabor a paixão.
8. Quando dizes, e cito-te:..."E cruzo as mãos de orações na absolvição do existir", pensas que a poesia é antes de mais uma atitude de libertação e purificação interior, assim como a tentativa de expiar algo indizível, ou pelo contrário um eterno franquear de fronteiras?
Mónica Correia - A poesia como qualquer tipo de escrita é um acto de libertação, mas esta libertação tanto pode ser uma punição como uma satisfação. Gritar nas palavras tanto pode ser uma gargalhada estridente como um som de dor. A emoção está lá a enfeitar as mensagens que dissecamos e consumimos como pão e água ou como o pecado da gula!
9. Acreditas que um dia a Humanidade encontrará verdadeiramente a Palavra?
Mónica Correia - Não acredito que se encontre a palavra universal… em cada país há um dicionário e há palavras que nem têm tradução de umas línguas para as outras, como a nossa saudade. Por isso e pelos valores diferentes que existem nas várias linguagens acho que nunca chegaremos a um consenso de Humanidade.
10. Se pudesses ser tu a descobrir a Palavra o que farias com ela?
Mónica Correia - Acho que se tentasse ir em cruzada para a espalhar pelo mundo, morria na fogueira ou era apedrejada por aqueles que me vissem como a bruxa da palavra do pecado. Nunca estamos preparados para perceber e aceitar o que não está ao alcance dos nossos olhos…
Mónica Correia - Nada na vida é fácil e há sempre alguma coisa que vai ficando para trás…
Um dia, algures na minha adolescência, confrontei a minha mãe com um elogio que um professor lhe tinha feito a respeito da minha escrita ao que ela me respondeu que seria bem melhor que eu aprendesse a limpar o pó! Mas definitivamente limpar o pó não "faz o meu género"! Por isso, sempre que posso é o papel de dona de casa que vai ficando em espera. Quanto ao resto faço os possíveis para os desempenhar da melhor forma mas só perguntando aos intervenientes em questão é que poderemos confirmar!
3. Mergulhando nas tuas palavras:
" Cânticos de silêncio que grito nas pautas de vida,Acordes sem acordo e desconcertante hipoteca de som.Escrevo a letra imaginária que cai dos olhosE se transforma em arlequim da poesia singular.Sem as cores que reflectem o cristal do teu olharSem o brilho perfeito reflectido da pele de vidro.Canto a voz que se agarra aos meus dedos mutáveisE deixo cair palavras na página finita de dias. "
Qual o sentido da tua mensagem poética? Pretendes expressar os teus sentimentos pelas palavras?
Mónica Correia - As histórias contam-se nas palavras do corpo e no corpo das palavras.
É um misto de emoções com necessidade de criar.
4. Citando Maria Teresa Horta "Não há nada que a nossa voz não abra", Mónica que portas abririas ao futuro da humanidade?
Mónica Correia - Da tolerância e respeito à diferença. Todos nós vemos o mundo de forma diferente e presunçosamente achamos sempre que a nossa forma é a mais correcta. Devíamos ser mais tolerantes e respeitar a visão dos outros.
5. Mónica Correia. Concordas com a afirmação de que toda a poesia é feminina ou pensas que o fenómeno poético está ligado a um universo de género indefinido?
Mónica Correia - A poesia é como os anjos: não tem sexo, no entanto pode ser muito sexual e assim sendo está indiscutivelmente associada aos homens. Não, não são os homens com falo de que falo, mas sim a humanidade! È uma forma de criação pintada de palavras.
6. Vejo em ti um espírito inconformado e lutador. Certamente autocrítico também. Como analisas a tua própria poesia?
Mónica Correia - Como pequenos retratos que tiro na realidade suspensa com a cor da fantasia. Quando vou ao baú sinto os poemas velhos e sem força, mas guardo-os novamente, fazem parte da caminhada. Continuo a tentar escalar a montanha mas muitas vezes sento-me cansada e espero que o céu se pinte de outra cor para voltar a escrever.
7. Achas que um poema é apenas uma semente ou lês a articulação das palavras como quem segue com o olhar os ramos duma árvore?
Mónica Correia - Todas as palavras são articulações: "a insustentável leveza do ser" é constituída pelas ramificações dos ossos nos poemas do corpo. Deito-me nos desvios dos ramos e colho a poesia, às vezes verde, às vezes madura, mas sempre com sabor a paixão.
8. Quando dizes, e cito-te:..."E cruzo as mãos de orações na absolvição do existir", pensas que a poesia é antes de mais uma atitude de libertação e purificação interior, assim como a tentativa de expiar algo indizível, ou pelo contrário um eterno franquear de fronteiras?
Mónica Correia - A poesia como qualquer tipo de escrita é um acto de libertação, mas esta libertação tanto pode ser uma punição como uma satisfação. Gritar nas palavras tanto pode ser uma gargalhada estridente como um som de dor. A emoção está lá a enfeitar as mensagens que dissecamos e consumimos como pão e água ou como o pecado da gula!
9. Acreditas que um dia a Humanidade encontrará verdadeiramente a Palavra?
Mónica Correia - Não acredito que se encontre a palavra universal… em cada país há um dicionário e há palavras que nem têm tradução de umas línguas para as outras, como a nossa saudade. Por isso e pelos valores diferentes que existem nas várias linguagens acho que nunca chegaremos a um consenso de Humanidade.
10. Se pudesses ser tu a descobrir a Palavra o que farias com ela?
Mónica Correia - Acho que se tentasse ir em cruzada para a espalhar pelo mundo, morria na fogueira ou era apedrejada por aqueles que me vissem como a bruxa da palavra do pecado. Nunca estamos preparados para perceber e aceitar o que não está ao alcance dos nossos olhos…
* Mónica Susana de Oliveira Correia nasceu a 14 de Abril de 1972 em Vila Nova de Gaia. Foi ginasta de competição durante 12 anos e frequentou a Escola Superior de Jornalismo no Porto, tendo enveredado para a área de Gestão e Marketing.
A sua escrita iniciou-se aos 17 anos, quando as suas emoções eram maiores que o seu corpo e tinham de se extravasar de alguma forma. Criou o blog "omeuumbigo" http://perigososcontactos.blogspot.com/, onde publica as suas poesias e para além de fazer parte da nossa lista participa na Lista Escritas de José Félix.
Em Dezembro de 2006 lançou o Livro Corpos Sem Som .
Em Março de 2007 participou na Antologia de Escritas N. 4 e em Junho na Antologia Poética Amante das Leituras.
2 comentários:
Parabéns à Mónica è Filipa. Gostei. Filipa, és uma jornalista profissional. Excelente.Uns passos mais à frente e...o sucesso à tua espera. E tu, minha amiga Mónica, que sabes quanto admiro a tua poesia, parabéns. Fiquei a saber algo de ti que desconhecia. Fazer poesia, é arte, arte amor,arte entreajuda e sobretudo, arte fiel a princípios e convicções. Beijos amigos
Bem!!! Mil perdões à Vera, por esta falha imperdoável.Reforço os meus parabéns, subscrevo o escrito anteriormente, só que... desta vez é para a Verinha. As minhas desculpas e mil beijos de amizade.
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