de Paulo Themudo, in "Os olhos espelham"
01
Ah, como é chegado o momento
sem tempo de mais ser do
que o silêncio puro,
envolto de nudez
no seu manto de dedos,
nascentes de rios
correndo lábios de céus.
Ah! Silêncio que explodes
em mil e mais cores
nas gotas suadas,
numas peles que já só sentem
que eternidade não é o tempo.
É o infinito no momento
que se incendeia por dentro
e renova de luzes
o fogo do firmamento...
02
tal qual vela
silenciosa
roubadora de silêncios
e da pouca claridade que ainda resta
ali
num canto do coração
como se a se esgueirar
de fino
pela fresta
e ainda [na penumbra]
executar canção
03
a)
somos olhos fechados dançando
num abraço embalado
na música
com o teu aroma
e meu amor
imaginei este poema assim
b)
os teus braços rodearam-me
ergui-te pela cintura
para um beijo
com o nosso amor
e foi romã
esse sabor de lábios-frutos
c)
escorre aqui um sabor bom
do que a imaginação
dá da memória
com o seu poder
e arte sã
nu nó onde nós nus somos
d)
vendo o universo luzente
absorver as luzes
e restar...
da escuridão
a noite
com o calor tépido abraço
e)
numa dança para encher
o próprio destino
bailo ainda
o que se pode dizer
com o corpo
transportado às palavras
04
o meu corpo parecia perdido
que luzes eram sois
pequenos nos meus olhos.
05
amanhecia, no mais longe
onde a vista alcançava
de lá, pouco a pouco,
iam se aproximando
os contornos
a relação entre as coisas
estava prestes a acontecer:
"pequenas luzes absorviam
o que restava da escuridão"
06
Por um tule tecido de evidências
encerra-se a fronteira da vontade,
o desejo, absorvido de oportunidade,
escorre da fronteira desse ínfimo espaço,
que medeia a transparência, de ser
não estar, não se ver, adivinhar,
querer, sempre adiado, o abraço
apesar de continuar na escuridão.
as formas são deleites, absorvem
a explosão dos luzeiros que fenecem
por puro prazer.
acontecer é o gesto adiado,
frenético e febril.
uma luz a explodir
na antevisão do que escurece
ah! delicioso tormento
apetece antecipar:
aparece, desaparece,
– não parece – é… movimento!
Índice de autores:
01 – Carlos Luanda
02 – Eliana Mora
03 – Assim
04 – Ana Maria Costa
05 – Sónia Regina
06 – Luís Monteiro da Cunha
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