Lançamento da Antologia Poética "Amante das Leituras"

Para comentar: clicar em view all images.

domingo, 23 de setembro de 2007

"De alegria, de ternura, de compaixão. Dá vontade de enlouquecer."

de, Virgílio Ferreira, in "Pensar"


01

também vim do caos, noite.
não fermentava, a cor,
esquecida do tempo;
a luz, nada inaugurava

a não ser o poema, tudo passa

na alegria, na ternura,
o dia não é a realidade
olhada com o pensamento

por isso não existes, resides
ou te inventas. eu, tampouco.
somos palavras frescas,
recém-escritas, soltas,
livres de compaixão

as que palpitam, sem qualquer
entendimento. no papel,
a vontade de enlouquecer


02

Uma só palavra ascende o espírito
Perante a lascívia que corrói o corpo
Perante a devassa deste mundo
A imaginação é o berço da viajem
Efémera razão que combustiona
A evasão do tumulto se encerra
– Nem que seja por um segundo –
a dor do amor da guerra e do prazer
da volátil alegria de ternura emergente
onde toda a compaixão dá vontade
apenas de enlouquecer sem pensar
sem pensar como Virgílio derradeiro
viver apenas e só o momento único
sem futuro em que investir o segundo
resta o primeiro espírito ou fracção


03

Dizem-me que sou feito só de tripa,
o que nelas me iguala ao animal,
que a alma em lodo toda se dissipa
quando chegar a recta em seu final.

Renego a excomunhão de ser de cal
quando em cinza, apagada condição,
me embrulharem nas folhas de um jornal
e me espalharem no correr de um chão.

O Homem ainda é a besta alcantilada
que no alto degrau da criação
rasteja em vão em jaula amuralhada…

Mas ainda há luz no fundo da matéria
para levar o bater do coração
a transcender o pó desta miséria!…


04

... o melhor que temos,
distingue,
na representação que nos concerne,
papel que nos foi entregue
por quem nos dotou de verve,
trejeito apropriado
para cada local, momento,
usando, com discernimento,
quando cordatos do que fazemos,
variados sentimentos,

manifestos irreprimíveis,
sonantes, espalhafatosos,
não audíveis, maravilhosos,
confortos que nos consolam,
nos enobrecem,
assolam,
consoante ruínas que fazem
desgastes,
quando desfazem,

dualidade que enlouquece,
alegria desmedida,
tristeza de qualquer vida,
ternura que dura,
perdura,
compaixão de quem muito sofre,
pitadas que nos deram
guardadas,
como num cofre,

cerradas a sete chaves,
como cafres ciosos que esperam
por muito mais do que têm,
avaros,
sem entraves,
olhando para ninguém,
eremitas assumidos,
pretensos,
quando enormes, quando imensos,
incapazes de rir, chorar, gemer,
muralhas de aço, perante
gemidos,
dando, fazendo sofrer,
ignorando o degradante,

doce afago se sente,
sorriso que aflora,
lágrima que desliza,
chora,
tremura que nos embala,
colo que alberga o Mundo
refúgio de tanta gente,
dor tamanha que esmaga,
compreensão que aglutina,
não dispersa,
fome que escandaliza,
riqueza que se desbarata,
prodigaliza,
inferno provocado pelo homem
horror que mata,
almas que se apagam,
somem,
quando disparam,
maltratam,

súmula que me compõe,
alegria de quem se isola,
imaginação que tudo apaga,
loucura de quem procura
enclave miraculoso,
recanto maravilha,
num oceano, uma ilha
em que habito, em que ouso,
refugio do que me envergonha,
longe do malévolo,
peçonha,
busca da felicidade eterna
que comove,
tão terna,
que me une, me move!!!...


05

repartem-se sentimentos
cantando distâncias
em lúcida loucura...
dividem-se sentimentos
algemando-se ângulos
em cavalos de fortuna...

e a/deus ternura...crivada de medos em estrelas puras.
e a/deus paixão... turbilhão emoção em puro algodão.
e compro_metida alegria todos te esperam no dia a dia.


06

O caos a que me entrego
me renega.
A dor em que navego
aflige e cega.
Mas tudo se desfaz
em alegria
quando coração
vai pra frente,
volta atrás
e ternura,
mais que apenas dor,
inscreve-se com-paixão.

Para mim, loucura é isto.
Criar a partir do caos.
Ser feliz na dor.
Ter coração.
Gritar até o último momento
(Ah! Eu protesto! Protesto!)
quando vencem os maus.


07

enlouqueço de prazer
quando dás o corpo

e morremos
de prazer

na perfeição
de_ter a poesia feita...




Índice de autores:

01 – Sónia Regina
02 – Luís Monteiro da Cunha
03 – José Dias Egipto
04 – Manuel Xarepe
05 – Ísis
06 – Maria José Limeira
07 – Francisco Coimbra

Nenhum comentário: