Lançamento da Antologia Poética "Amante das Leituras"

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quinta-feira, 12 de julho de 2007

Pouco me importa. Pouco me importa o quê? Não sei. Pouco me importa."

(Foto: Autor Desconhecido)

de Alberto Caeiro, in "Poesia", edição Fernando Cabral Martins e Richard Zenith





01


Havia um quê

na história

que nunca consegui

decifrar.

Um tanto de lenda,

um tanto de mito,

aquela mania

de misturar

o real e o imaginário....

No final

consegui apenas

salvar as borboletas,

que levemente

voavam sobre

minha cabeça...

Não me peçam

coerência

nessas questões.

Sou poeta!


02


Não importa

onde pouse o olhar

não importa

a identidade

nem o coração partido

Não importa

a desventura

nem as portas fechadas.

A alvorada traz a denúncia,

Incitando à liberdade.


03


quando olho pra cima em dia nublado,

sei do azul por trás das nuvens

mas pouco me importa o que sei

e não saber pouco me importa


04


se para a janela me conduzo

sem me impressionar com o vidro sujo

sem lamentar o pesar dos passos

sem resistir ao apelo do sol
ao teu encontro
se pela porta saio

depois do escuro chegar

se no dia em que pelas escadas rolar

a minha consciência

a minha força

o meu talento de te fazer rir

desaparecer

pouco me importa

pouco me importa o porquê…


05


... não sei, pouco importa

que águas turvas inundem, destruam,

que subam, que subam,

que animais se extingam, se maltratem, se abatam,

que ares se tornem irrespiráveis, casa de todos,

sejamos poucos,

que roubem o alheio, com fúrias pelo meio,

que sejam selvagens,

não tenho receio,

que corra para cima, que venha para baixo,

calcando quem vem, não olhando a quem,

que um nado-morto, venha já morto,

não sei, não me importo.

que se acabe com tudo, ventos frios do norte,

suão que indispõe,

sequia que murcha, que suja, enegrece,

avilta, envilece,

que manche a verdura, que cerre esta porta,

já nada me importa,

bem sei

que o Mundo está louco,

me envergonho, escondo meu rosto,

enrubesço quando me indigno,

já não enfureço por isto, por aquilo,

admito bárbaros costumes,

usanças que avançam,

hábitos que instalam,

corações empedernidos, olhares que afastam,

pouco me importam,

o quê???...

indiferenças e medos, tudo suportam,

germinar da desgraça,

triste trapaça,

ilusão permanente no vale, no monte,

sol que se põe, noite que desponta,

estrelas que não brilham, Lua que afronta,

tétrica até,

pouco importa,

não sei,

sem crença, sem fé,

de rojo me ponho,

não dou

porque já dei,

quase me descomponho,

me nego, me escondo,

altero quem sou,

o quê???...

não sei, pouco importa,

aceito o avarento, o hipócrita de medo,

o cínico interesseiro, a vaidade, o espavento,

a mentira soez, o segredo,

avulto o dinheiro, ignoro quem chora,

quem sofre, vai embora,

morto esquecido, esfomeado que resiste,

fera que insiste,

guerra como solução,

abate de gente, morte na multidão,

crime, perversão,

ódio que agita, dores que cumulam,

doenças que dizimam,

perco a razão,

quem muito sofreu,

quem tudo suporta,

já deu,

ensandeceu,

cerra vontade, alia a maldade,

amoleceu,

ignora a verdade,

aplaude a vil pujança,

corrupio, desvario,

insensatez que prevalece,

imola, esquece

inerte temperança,

oca esperança de quem mata, acomete,

tudo promete,

o quê???...

não sei, pouco me importa,

medo, indiferença,

quanta descrença

que tudo suporta!!!...


06


Eu sei

Eu e só eu
apenas eu
sei
como é difícil amar
e parecer
ao mesmo tempo,
não se importar.

Como é difícil viver
esperando o teu olhar
e parecer
não se importar.

Como é difícil viver
com toda a alma de bruços
a chorar
e parecer
não se importar

Como é difícil viver
fingindo representar
um amor que se tem
e que nos faz doer
mas que não se quer mostrar
e parecer
não se importar.

Como é difícil viver
a falar, falar, falar
sem nada ter que dizer
aos outros, que não a ti,
e parecer
não se importar.

Como é difícil viver
a escrever, ler
e pensar
mas ter a mente vazia,
dos outros, que não de ti,
e parecer
não se importar.

Como é difícil viver
Com o mundo à nossa volta
a passar
e nunca te ver a ti
-nunca te ver nos teus olhos -
e parecer
não se importar.

Como é difícil viver
como quem vive a sonhar
mas tem a alma desperta
para poder adivinhar,
a ti, no modo de andar
e parecer
não se importar.

Como é difícil viver
sentindo o sangue a pulsar
como se fosse morrer
de tanto ser e amar,
e parecer
não se importar.

Como é difícil viver
e parecer
não se importar.

07

pouco me importa
tudo mesmo
escrito

se o que sinto
nem lendo

em mim ressuscito


08


A dor, a taramela da alma

a repetição da carne

o acasalamento do sangue

com o coração.

Pouco me importa o grito

o coração a alma eu ressuscito

a dor… não sei!


09


Pouco me importa

o pouco me deixa louca

e nem com pouco sou capaz

louca e rouca

pouco me importa

se o quê é tudo

e o tudo não me satisfaz.


10


As rosas desprendem-se do galho espinhoso
Os miosótis têm esmaecidas suas pétalas
Os girassóis pendem amortecidos
O jardim inexiste ao redor da casa

Pouco me importa. Os vasos eram de vidro
E quebraram-se.


11

o elevador
que leva
à todos
passou
por aqui
e estava
lotado

subindo

pelo sim
pelo não

vou descendo
bem devagar

mas pela escada


12


Pouco me importa

Saber se o sol brilha.

O que me importa

É tê-lo nos meus dias!


13


O que importa

Se a iniquidade impera

e não somos todos iguais.

Há mais cores no arco-íris

do que os olhos enxergam...

Mas quem se importa?


14


pouco importa

o hábito que vestimos

se não forem

determinados pelo coração

e não importa

o que os outros pensam

que sentimos

no cantar do vento

mordendo as nossas bocas.

importa saber

sermos sol sal ou mar

céu estrela ou luar?

se no movimento do vento

foge o ás de copas

e ficamos sem voz,

com o ás de espadas.!.


15


Levanta-se a poeira aos passos do homem
que, apesar de tudo
não aprendeu a caminhar.
Arrasta-se
carregando aos ombros o jugo
de sua própria intransigência.
Mas não importa.
Ou ele aprende
ou se consumirá.
No mundo que foi seu
ficarão as moscas.
E as baratas.


16


Pouco me importa o porquê…


17


Queria saber duma só palavra.

Que fosse eterna e emergente

A Nascente nos Tempos perdida

Dos sons em névoa que usamos na foz.

Que não se esgotasse nos ecos bastardos

Nem morresse nos braços do nada

Que uma vez pronunciada

Fosse Mãe e Terra e som

E sem mais dizer-se nada

Ser o silêncio a alvorada

Da importância de estar calado,

O que julga ser som importante.

Jamais haveria de então em diante

Trocadilhos, eufemismos...

Frases feitas de outros sentires

De mentiras e importâncias.

Mas assim que coisa eu digo?

E se digo o que importa?

Só estes sons que o tempo corrói.

Que longe de serem importantes

São a mágoa que me dói.

De não importar que morram em nós...


18


pouco vale (o) espanto
se não espanta
quem vê

como outro
viu (o)

espectáculo dum verso!


19


pouco importa se calças de cinco anos atrás se arrastam

desfilando desfiadas nas calçadas onde cobertor é colchão

pouco importa a falta de café aquecido e de um pão endurecido

pouco importa se a garoa ou a chuva vararem madrugadas

pouco importam as grades a inanição a fome e os abusos...

pouco importam os discursos nos púlpitos e nos falsos tronos

mendigos admiram a lua? letras & estrelas enchem barrigas vazias?

no antagônico onde vivem as almas dos humildes "vagabundos"?

o que vaga ao pisar na lama? ao prov(oc)ar o sabor do egoísmo

...ah divinas fontes! ah! sal do mar... doces rios lavam todos os corpos?


20


pouco me importa
tudo mesmo
escrito



*Índice de autores:*


01 – Belvedere
02 - Andréa Motta
03 - Sónia regina
04 – Filipa Rodrigues
05 – Manuel Xarepe
06 – Geraldes de Carvalho
07 – Francisco Coimbra (FC)
08 – Ana Mª Costa
09 – Bernardete Costa
10 – Linda Maria
11 – Rogério Santos
12 – Cármen Neves
13 – Denilson Neves
14 – Ísis
15 – Dalva Agne Lynch
16 – Filipa Rodrigues
17 – Carlos Luanda
18 - Assim
19 – *Rosangela Aliberti
20 - Francisco Coimbra


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